quarta-feira, 8 de julho de 2009

Xbox 360 Project Natal




Um grande criador de games disse certa vez que a atual torrente de tecnologia nos video games traz consigo um preocupante efeito colateral: o de disfarçar algumas mentes não tão criativas, que esconderiam suas tramas prosaicas e desprovidas de bom humor atrás de formas e texturas cada vez mais límpidas e realistas.
Mas, fato é que a indústria de gamescresceu. Cresceu, se especializou, ganhou em profundidade e variedade, e abarca hoje um público cada vez maior e mais exigente — nada mal para algo que começou como uma novidade tecnológica excêntrica considerada “sem futuro” por muitos “visionários” da época.
Na realidade, provavelmente não seria precipitado traçar um paralelo entre a evolução dos pixels e a de outra forma de arte bastante conhecida: o cinema. Ambas as formas progrediram, ganharam em detalhes e sutilezas e, cá entre nós, ambas foram copiosamente rechaçadas em um primeiro momento (como sempre aconteceu com toda nova forma de arte).
Fato é que hoje os video games transcenderam o nicho original no qual eram qualificados apenas como “jogos eletrônicos”, época em que ofereciam objetivos simples e, no melhor das hipóteses, previsíveis. De um passatempo infantil, a nobre arte pixealizada foi alçada ao papel de entretenimento principal para muitas pessoas, que passaram a acompanhar as histórias das franquias e de seus cada vez mais carismáticos protagonistas.
Uma nova forma de jogar video games?
Mas essa evolução toda põe em pauta uma nova discussão: a forma de jogabilidade atual estaria prestes a passar por mais uma reformulação? Uma daquelas mudanças drásticas que tirou uma galinha com compulsão por atravessar ruas e colocou os primeiros nacos de história? Ou, quem sabe, uma daquelas que permitiu que os jogos flertassem pela primeira vez com um espaço então dominado pelo cinema? Alguns acham que sim.
Violência não será mais tão necessária? Os texugos agradecem















Por exemplo, os fundadores da BioWare, Greg Zeschuk e Ray Muzyka. Para a dupla, é hora de os criadores de videogame se desvencilharem de um imperativo que tem dominado o mainstream dos jogos eletrônicos há tempos: a necessidade de cenas de luta e violência em geral para conseguir tornar um jogo vendável. Para eles, a idéia seria aproveitar um pouco mais as possibilidades narrativas, o que seria mais que suficiente para abocanhar uma bela fatia do público atual de jogos.

Em entrevista ao site GamesIndustry.com, Zeschuck disse que “na nossa companhia, discutimos muito sobre a necessidade de termos combates como parte da experiência”. E completa: “será que existem possibilidades de começarmos a separar partes de um jogo para adaptá-lo ao público?”.
Em outras palavras, a pergunta seria: será mesmo preciso que existam, necessariamente, cenas de violência e luta em um jogo para que ele possa vender? Ou será que o grau de maturação do público atual permitiria um espaço totalmente focado no desenvolvimento da trama e nos desdobramentos da história?
Segundo Zeschuck, “uma coisa é certa, muitos jogadores estão habituados a ter sempre a mesma base jogável durante os últimos dez anos; querem ter momentos de batalha e de luta. Mas existe outro tipo de público que certamente desfrutaria mais de uma boa história”. Não que isso seja exatamente uma falta hoje em dia, é claro.
Como uma espécie de “carro-chefe” para essa nova tendência, a dupla aponta a tecnologia pioneira do já largamente alardeado Project Natal. Essa seria a engrenagem que incorporaria o atual amadurecimento da indústria de games, permitindo que os desenvolvedores passem a apostar em histórias emocionalmente mais sedutoras. “É algo que nos interessa explorar, embora ainda não tenhamos feito nenhum anúncio oficial”, afirma Muzyka.

e creio que foi exatamente esse o ponto tocado pela dupla da BioWare. De fato, não existe absolutamente nada de errado nas apostas em violência e cenas de ação. Vários blockbusters atuais provam que ação e histórias dignas de Oscar podem conviver pacificamente. Estão aí GTA IV e Fallout 3 que não me deixam mentir.

RPGs: "o futuro dos jogos de tiro"

Mas outra figura ilustre do mundo dos games — já bastante conhecida por sua patente inclinação em criar polêmicas — também resolveu recentemente dar o seu parecer sobre o assunto. Para o game designer Cliff Bleszinski (
Gears of War), o futuro dos jogos de tiro puramente violentos já está traçado: eles simplesmente acabarão por se transformar em RPGs.

Bleszinski afirma que a conversa surgiu com um dos designers principais de
Deus Ex, Harvey Smith. “Eu tive uma conversa com Harvey Smith, e disse a ele que o futuro dos ‘shooters’ são os RPGs, ele então disse estar totalmente de acordo”. Um tanto extremista? Certamente. Improvável? Não totalmente, embora seja bastante razoável acreditar que até mesmo o formato atual de RPGs pode acabar passando por mudanças consideráveis graças às novas tecnologias.

Visionários à parte, é realmente ótimo vislumbrar as novas possibilidades descortinadas pela sempre emergente tecnologia do mercado de games. Quer dizer, quais realmente seriam os novos limites para uma trama interativa protagonizada pelo novo “deus ex machina” da Microsoft? Qual seria a potencial de algo do nível de um Mass Effect caso todo o seu corpo pudesse interagir com os eventos trazidos pela trama?

Níveis de ação e/ou violência à parte, faço minhas as palavras da dupla da BioWare: é realmente excitante acompanhar a indústria de games nesse momento em particular.


0 comentários: